sábado, 10 de janeiro de 2015

Carta a Gustavo Santos

Caro Gustavo Santos:

Sei que não me conhece, que não sabe quem eu sou. De facto, não sou ninguém comparativamente a si. Sou apenas um jovem que já podia ter uma vida estável se não me tivesse deixado levar por alguns percalços que me atrasaram os estudos. No sentido contrário, conheço um pouco sobre si, sobre o que faz e diz. Dada a liberdade que me é conferida, permita-me escrever-lhe algumas palavras. Não é que você se tenha posto a jeito delas, porque aquelas de que você se pôs a jeito eram muito mais agressivas e menos cordiais. E não, não eram insultos gratuitos, apesar de reconhecer que numa primeira fase, sou capaz de ter dito algumas coisinhas menos boas, porém, não seria assim que me dirigiria a quem quer que fosse, mesmo que alguns assim o mereçam e seja parte da condição humana perder a postura ou não pensar convenientemente quando confrontado com algo com que não concorda.

Posta esta introdução, gostava de lhe dirigir umas quantas palavras, se me fizer o favor de as escutar. Sabe Gustavo, aquelas duas postadelas que fez no seu Facebook? Aquelas sobre o Charlie Hebdo que mais tarde teve de justificar com um texto gigante a tentar passar a sua ideia acabando por demonstrar que para si "eles puseram-se a jeito"? Pois fique sabendo meu caro, quando usamos a gíria temos de ter noção do que estamos a dizer, do que a frase em si implica e temos de saber todo o background de uma situação (espero que aprecie estes anglicismos). Quando nós dizemos "tu metes-te a jeito "estamos a dizer "não foi nada que não merecesses e é bem feito". Para alguém que já tenta levar os outros ao positivismo, considero terrível o uso de semelhantes palavras. Sabe, podia ter-se limitado a um "arriscaram em demasia após o primeiro aviso" ou qualquer tipo de frase que indicasse que não estava de acordo com os ataques, mas que talvez tivessem existido movimentos de risco. Até porque o pessoal da Charlie Hebdo não se pôs a jeito. Eles fizeram foi o uso daquilo que permite ao Gustavo ter um programa de remodelações e fazer vídeos sobre o positivismo.

Sabes Gustavo (a formalidade é bonita, mas assim sinto-me mais à vontade), agora que já passámos a fase em que eu te digo o que achei mal nas tuas palavras, pergunto-te, quem és tu? Sim, é a mesma pergunta que tu fazes sobre mim, mas eu sou um mero aprendiz que não se acha supra-sumo em nada. Pelo contrário, até me considero alguém com dois dedos de testa com quem até podes ter um diálogo, desde que não me vendas a tua filosofia de vida. Não penses que não respeito a forma como vives ou dizes viver, apenas acho que há formas mais realistas e humildes de viver. A superioridade deve ser reconhecida pelos outros e não imposta aos outros.

Mais te digo que, quando existe a necessidade de expor um texto onde tentamos justificar aquilo que dissemos, é sinal que falhámos. E eu falho muitas vezes. Não é que me tenha de explicar muito, apenas tenho de explicar o meu raciocínio, porque salto bastantes etapas entre o início e a conclusão que podem não ser entendidas pelos outros (como fiz agora, caso não te tenhas apercebido).

A culpa não é tua Gustavo. Como tu, conheço muita gente e não consigo ser amigo dessas pessoas. A culpa é de quem te dá tempo de antena ou de quem segue as tuas palavras. Eu estou a dar-te tempo de antena porque este é o meu blogue sobre o meu lado anti-social, que detesta a estupidificação da sociedade. Pessoas que seguem a Casa dos Segredos como se a vida delas dependesse daquilo, que dizem que a Margarida Rebelo Pinto, essa diva que adora as gordas (percebeste o sarcasmo?) é a melhor escritora do mundo, que não percebem o conceito do livro "Prometo falhar", mas que partilham excertos porque a frase é bonita ou que seguem as tuas ideias como se fosses um mentor.

"E a ti, quem te segue LM?" - perguntas tu e com razão. Eu digo-te: pessoas que mesmo não sendo famosas, têm valores enormes dentro de si. E sabes, já falei com alguns grandes nomes...uns mostraram-se pessoas vazias e com a mania das superioridades; outros foram capazes de demonstrar grande humildade e aconselharam-me para o futuro.

Eu não sou superior a ti nem mais famoso que tu. Vivo bem sem isso. Só te escrevo este texto para te dizer uma coisa: ninguém se meteu a jeito nem ninguém estava a pedi-as. Mede bem as tuas palavras, porque independentemente do que estava em causa, uma vida é sempre uma vida, seja ela a de um extremista, seja ela a de um cartoonista que se limitou a fazer uma sátira do que quer que seja. E antes de dizeres aquilo que disseste, devias ter visto as imagens da polémica. Porque foi isso que eu fiz antes de escrever o post anterior.

Cumprimentos.
- LM

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