quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Ainda sobre o Charlie Hebdo e o Gustavo "auto-ajuda" Santos (com vídeo)

Em 2011, após o ataque bombista à sede da redação, Stéphane Charbonnier, vulgo Charb, dizia ao Le Monde que "não nos vejo a matar alguém com uma caneta" e que "prefiro morrer de pé do que viver de joelhos"
Olá amiguinhos e amiguinhas, como têm passado? Suponho que bem, mas espero que mal. Não que vos deseje qualquer tipo de mal, mas estas semanas têm sido bastante ricas no que a estupidez alheia tenho observado e, infelizmente, é tempo que não volto a ter para poder usar de forma mais útil do que aturar clichés, lágrimas de crocodilo ou rabos com inveja da boca dos donos.

Por falar em rabos com inveja da boca, deixem-me partilhar convosco algumas definições que se encontram num dicionário de dois Tomos que para aqui tenho (podia usar aqueles da Porto Editora ou azuis ou laranjas que tenho desde a primária) que me parecem interessantes:

Sátiras. f. (do Lat. satira). 1. Composição poética, mordaz, que ridiculariza os vícios ou defeitos de uma época ou de uma pessoa. 2. Obra crítica, picante, irónica ou jocosa.

(como não encontrei egóico no dicionário porque não tem (e a palavra é dada como errada em textos pt-pt) pressuponho que estamos a falar de algo relativo às seguintes palavras:)

Egotismo, s. m. (do Gr. egó). 1. Sentimento exagerado da própria personalidade, do próprio valor. 2. Mania de falar de si; subjectivismo.

Egotista, adj. 2 gén. (do Gr. egó). Relativo a egotismo. 2 gén. Pessoa que tem um sentimento exagerado do seu valor pessoal; que tem o hábito de falar de si.

Libertinagems. f. (do Fr. libertinage). 1. Vida de libertino. 2. Devassidão. 3. Os libertinos

Libertino, adj. m. (do Lat. libertinu). 1. Devasso; dissoluto. 2. Ímpio. S. m. Livre-pensador.


Para finalizar, deixem-me citar um Senhor dos Cartoons em Portugal chamado Augusto Cid (estou com a sensação que houve alguém que esteve com ele recentemente...)

Augusto Cid, Sol (Sol)
"(...) para os cartoonistas, quanto pior, melhor. Quando as coisas correm mal para o Governo correm bem para os cartoonistas, não é? É mais fácil para nós encontrar assunto se acontecerem coisas – de preferência más- do que não se passar nada."
"Já houve tempo em que os visados se sentiam atingidos na sua honra pessoal e protestavam. Depois perceberam que não gostar de cartoons e de humor era politicamente incorrecto."
"Vejo o cartoon como uma coisa muito séria e como uma crítica importante. Aliás, o cartoon é sinónimo de liberdade e de democracia. Os países que não têm democracia não têm cartoonistas."
"É evidente que há comentadores e jornalistas que escrevem artigos muito bons, mas esses
artigos têm dificuldade em penetrar e ser assimilados, enquanto um desenho não".

E podia juntar mais coisas, ditas por outros cartoonistas, mas creio que só mais esta frase chega:

António, Expresso (Única, 19/Set/2009)
"Eu só concebo o cartoonismo feito de forma livre, independente. Sem pressões nem chantagens. Felizmente, não me posso queixar de falta de liberdade."


Pois é rapaz, às vezes convém saber o que estamos a dizer. Porque liberdade de expressão é ter liberdade para dizer o que eu quiser; libertinagem de expressão (eu nem sei se isto existe) no máximo dos máximos é o expressar dos meus livres pensamentos. Isto até que é parecido com a liberdade de expressão...mas espera, há limites? Eu tenho lido algumas pessoas a dizer que há limites para a liberdade de expressão e para o humor. Ora, se há limites, não existe liberdade, mas sim um falso conceito de liberdade. "Podes dizer o que quiseres, mas nada de tocares nos assuntos que me afectam, senão metes-te a jeito de levar no focinho." Pois..."liberdade", entre aspas. Falso moralismo é um erro que tu, Gustavo Santos, "life coach" e escritor de livros de auto-ajuda(1), cometeste ao dizer que os outros eram egóicos (prefiro dizer concentrados no ego). Se alguém aqui se foca em si mesmo és tu, que dependes dos outros, não para te enriquecer pessoalmente, mas para ser alguém. Até te digo mais, nós somos interdependentes dos outros, sabes porquê? Porque se não fossem os outros, nós não nos moldaríamos nem moldaríamos a sociedade. De facto, nem sequer existíamos, porque estamos dependente dos outros para os factores sociais que adquirimos e transmitimos. Pensa nisso.

Voltaste a dizer que "eles puseram-se a jeito" naquela tua ida à TVI (aqui está a prova que eles querem é escândalo...o sensacionalismo faz manchetes) . Disseste que até o teu cão foi ameaçado e adivinha...foste gozado por isso e nem te apercebeste. Sim, porque a pergunta que te fizeram sobre o teu cão foi feita de forma jocosa. E mais te digo...dizes que foste vítima de libertinagem de expressão por te terem ameaçado...foste vítima de ti próprio... meteste-te a jeito e muita sorte tens tu serem só palavras.

A próxima vez que abrires a boca, espero que seja para falar de coisas como deve de ser e sem inventar expressões ou sem te achares, como se diz na gíria, "a última bolacha do pacote". Eu até nem gosto de bolachas...

Diverte-te a ver isto e repensa nas tuas palavras sobre o pessoal da Charlie Hebdo. Até os mortos te contradizem, já viste?


Charlie Hebdo, Before the Massacre from The New York Times - Video on Vimeo.In this short documentary filmed at Charlie Hebdo in 2006, cartoonists and editors design a satirical front page image of Muhammad.
Produced by: Jérôme Lambert and Philippe PicardRead the story here: http://nyti.ms/17qpRt7Click here to follow us: vimeo.com/newyorktimesWatch more videos at: nytimes.com/videoFollow on Twitter: twitter.com/nytvideo

Notas:
1. escreves livros para te ajudar a ti próprio? É que auto-ajuda é ajudar o ego, contrariamente ao peixe que vendes...para além disso, a vida não se treina...vive-se e aprende-se com os erros...não há cá treinadores de vidas (tradução literal); aliás, existem simuladores para se ser treinador de alguma coisa.
2. livros de ajuda são livros tais que ajudam as pessoas a pensar ou repensar na sua vida. Recomendo-te um pequeno e simples: Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach. É um livro de 1970 que me ensinou muito. Talvez possa fazer o mesmo por ti.

-\\- Case Closed -//-

p.s.: não comentei a referência aos radicais islâmicos porque não achei a intervenção passível de ser comentada. Não foi por falta de concordância, foi apenas por considerar que a Charlie Hebdo não fez afronta a radicais extremistas como foi dito. Isso foi feito por outros artistas. Podem procurar pela hashtag #hedrewfirst no Twitter ou digitar no Google He drew first.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Carta a Gustavo Santos

Caro Gustavo Santos:

Sei que não me conhece, que não sabe quem eu sou. De facto, não sou ninguém comparativamente a si. Sou apenas um jovem que já podia ter uma vida estável se não me tivesse deixado levar por alguns percalços que me atrasaram os estudos. No sentido contrário, conheço um pouco sobre si, sobre o que faz e diz. Dada a liberdade que me é conferida, permita-me escrever-lhe algumas palavras. Não é que você se tenha posto a jeito delas, porque aquelas de que você se pôs a jeito eram muito mais agressivas e menos cordiais. E não, não eram insultos gratuitos, apesar de reconhecer que numa primeira fase, sou capaz de ter dito algumas coisinhas menos boas, porém, não seria assim que me dirigiria a quem quer que fosse, mesmo que alguns assim o mereçam e seja parte da condição humana perder a postura ou não pensar convenientemente quando confrontado com algo com que não concorda.

Posta esta introdução, gostava de lhe dirigir umas quantas palavras, se me fizer o favor de as escutar. Sabe Gustavo, aquelas duas postadelas que fez no seu Facebook? Aquelas sobre o Charlie Hebdo que mais tarde teve de justificar com um texto gigante a tentar passar a sua ideia acabando por demonstrar que para si "eles puseram-se a jeito"? Pois fique sabendo meu caro, quando usamos a gíria temos de ter noção do que estamos a dizer, do que a frase em si implica e temos de saber todo o background de uma situação (espero que aprecie estes anglicismos). Quando nós dizemos "tu metes-te a jeito "estamos a dizer "não foi nada que não merecesses e é bem feito". Para alguém que já tenta levar os outros ao positivismo, considero terrível o uso de semelhantes palavras. Sabe, podia ter-se limitado a um "arriscaram em demasia após o primeiro aviso" ou qualquer tipo de frase que indicasse que não estava de acordo com os ataques, mas que talvez tivessem existido movimentos de risco. Até porque o pessoal da Charlie Hebdo não se pôs a jeito. Eles fizeram foi o uso daquilo que permite ao Gustavo ter um programa de remodelações e fazer vídeos sobre o positivismo.

Sabes Gustavo (a formalidade é bonita, mas assim sinto-me mais à vontade), agora que já passámos a fase em que eu te digo o que achei mal nas tuas palavras, pergunto-te, quem és tu? Sim, é a mesma pergunta que tu fazes sobre mim, mas eu sou um mero aprendiz que não se acha supra-sumo em nada. Pelo contrário, até me considero alguém com dois dedos de testa com quem até podes ter um diálogo, desde que não me vendas a tua filosofia de vida. Não penses que não respeito a forma como vives ou dizes viver, apenas acho que há formas mais realistas e humildes de viver. A superioridade deve ser reconhecida pelos outros e não imposta aos outros.

Mais te digo que, quando existe a necessidade de expor um texto onde tentamos justificar aquilo que dissemos, é sinal que falhámos. E eu falho muitas vezes. Não é que me tenha de explicar muito, apenas tenho de explicar o meu raciocínio, porque salto bastantes etapas entre o início e a conclusão que podem não ser entendidas pelos outros (como fiz agora, caso não te tenhas apercebido).

A culpa não é tua Gustavo. Como tu, conheço muita gente e não consigo ser amigo dessas pessoas. A culpa é de quem te dá tempo de antena ou de quem segue as tuas palavras. Eu estou a dar-te tempo de antena porque este é o meu blogue sobre o meu lado anti-social, que detesta a estupidificação da sociedade. Pessoas que seguem a Casa dos Segredos como se a vida delas dependesse daquilo, que dizem que a Margarida Rebelo Pinto, essa diva que adora as gordas (percebeste o sarcasmo?) é a melhor escritora do mundo, que não percebem o conceito do livro "Prometo falhar", mas que partilham excertos porque a frase é bonita ou que seguem as tuas ideias como se fosses um mentor.

"E a ti, quem te segue LM?" - perguntas tu e com razão. Eu digo-te: pessoas que mesmo não sendo famosas, têm valores enormes dentro de si. E sabes, já falei com alguns grandes nomes...uns mostraram-se pessoas vazias e com a mania das superioridades; outros foram capazes de demonstrar grande humildade e aconselharam-me para o futuro.

Eu não sou superior a ti nem mais famoso que tu. Vivo bem sem isso. Só te escrevo este texto para te dizer uma coisa: ninguém se meteu a jeito nem ninguém estava a pedi-as. Mede bem as tuas palavras, porque independentemente do que estava em causa, uma vida é sempre uma vida, seja ela a de um extremista, seja ela a de um cartoonista que se limitou a fazer uma sátira do que quer que seja. E antes de dizeres aquilo que disseste, devias ter visto as imagens da polémica. Porque foi isso que eu fiz antes de escrever o post anterior.

Cumprimentos.
- LM

Je Suis Eu Próprio.

Este não é um post normal, mas podia ser.

Aconteceu uma tragédia, 12 pessoas morreram. Tudo por causa de um extremismo doentio onde "vamos defender a nossa religião". Curioso é que os representantes dessa religião condenam os actos, não se revêm nos ataques e nunca os vi defenderem o extremismo como salvação do que quer que seja. No entanto, temos a Comunicação Social a contribuir para que a imagem de que existe uma religião extremista. Discordo. Todo o idiota que defenda de forma extremada uma religião está a ir contra a própria religião. Muitos podem dizer "mas na Igreja isso não acontece", aos quais eu respondo com um "e lembram-se dos tempos da Inquisição? Estudaram isso na escola? Venham-me falar agora de extremismo" e os argumentos acabam-se.

Stéphane Charbonnier, ou Charb, director, cartoonista e um dos que morreu tinha dito em tempos, numa entrevista que preferia morrer de pé em vez de viver de joelhos. E isto foi à uns anos aquando uma publicações polémicas na Charlie Hebdo, antiga Hara-Kiri Hebdo. A coragem que estes homens e mulheres, ou esta publicação, têm e tiveram, não é, de todo, comparada à vossa estúpida onda de solidariedade. Vocês são Charlie? Vocês que vivem de joelhos, que se rebaixam, que não são capazes de fazer as coisas como queriam por medo de represálias, são Charlie? Vocês são é uns sem-vergonha! Vocês são aquilo que está mal na Comunicação Social em Portugal e em todo o Mundo! Vocês são a causa de terem um povo desinformado, porque o que interessa é o escândalo. O que vos interessa é saber que Paulo Portas está na Feira de Carcavelos, quando deviam era dizer para onde foram os papéis estranhamente desaparecidos sobre a aquisição de submarinos desnecessários para Portugal, causando endividamento. O que interessa é saber que os nomes mais usados são Maria e João, quando devia ser o desmascarar das empresas onde entram nomes de ministros por onde existem desvios de dinheiro que e que tanto fazem o povo ficar cada vez mais pobre. VOCÊS SÃO UMA ESCUMALHA TÃO GRANDE QUANTO OS QUE ROUBAM PORQUE NÃO TÊM CORAGEM DE EXPOR A VERDADE TAL E QUAL COMO ELA É. E eu, que estudo Comunicação Social tenho vergonha e repúdio essa atitude medíocre que vocês tão orgulhosamente ostentam como se fossem todos Charlie.

Eu não sei se sou capaz de ser Charlie. Não sei mesmo. Tenho ideias muito próprias, defendo a pluralidade e a multiculturalidade. Sou contra o extremismo e contra o falar da boca para fora. Lembram-se da hashtag #SomosTodosMacacos ? Quantos de vós é que já tinham feito algo para acabar com o racismo? Nenhum, não é?

Isto é tudo muito giro, mas partilhar uma hashtag e uma imagem a dizer #JeSuisCharlie só vos faz ser ridículos. Se querem mudar o mundo, arregacem as mangas e larguem as partilhas de Facebook e Twitter. Vocês nunca serão Charlies. Serão sempre vocês próprios. Cabe a vós escolher entre viver de joelhos ou ter coragem para viver de pé.